Esse ano de 2017,
tem dois temas dentro da Abadá - Capoeira que me chamam a atenção, sendo que
eles se complementam. O trabalho dos cantores do disco Ubuntu e o tema Abadá Indígena dos jogos mundial, nos traz para uma profunda reflexão.
“Sou porque nós
somos” (Ubuntu), esse é o caminho. E os índios, esse é a nossa dívida
impagável.
Nós fazemos
parte de um mesmo elo, quando ferimos alguém, ou a sua cultura, ferimos a nós
mesmos. Por mais evoluída que pareça a nossa sociedade, estamos sem perceber,
criando o fim de nossa existência. Poluímos o ar que respiramos, sujamos a água
doce dos rios que mata nossa sede, queimamos e desmatamos o pulmão do mundo, e
abrigo das faunas que compõe o nosso planeta.
A Abadá - Capoeira, nos propõe a buscar mais a essência de nossas raízes, antes de
avançar em direção ao futuro. Pois, é a nossa atitude no presente com relação
ao passado, que pode proporcionar um futuro melhor para todos. Tanto a
filosofia africana, quanto a indígena (sendo elas nossas raízes), tem muito a
nos ensinar. Busque, pesquise, aprenda e compreenda. Você não vai se
arrepender!
E na busca de
inspiração para este artigo, encontrei esta carta que não posso deixar de
compartilhar com você, caro leitor!
Se trata de uma
carta do Cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviada
em 1855 ao presidente dos Estados Unidos Francis Pierce, depois do governo ter
dado a entender que queria comprar a terra onde moravam sua tribo. A mais de um
século e suas palavras ecoa como se tivesse escrito hoje. Veja quanto valores
foram massacrados!
A carta
"O grande
chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe
assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte,
pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua
oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e
tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o
chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem
confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas
não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia
é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode
então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda
esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de
areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os
insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o
homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra
é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra
tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la
ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra
de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos
filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas
cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim
por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem
lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das
asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das
cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que
o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo
à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o
próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de
pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos
respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se
importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau
cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem
branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não
compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas
pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do
trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa
ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para
sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os
animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto
acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra,
fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos
viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso
da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo
com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde
passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou
até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram
nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará
para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de
confiança como o nosso.
De uma coisa
sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o
mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja
possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma
maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano
à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai
desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a
sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos.
Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando
as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem
de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias?
Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da
vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
Talvez
compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais a esperança
transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro
oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós
somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem
ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é
para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os
nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver
partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das
pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias,
porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a
protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda
a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos,
e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo
Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o
nosso destino comum."
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