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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Abadá Indígena / Ubuntu, "Sou porque nós somos"

     Esse ano de 2017, tem dois temas dentro da Abadá - Capoeira que me chamam a atenção, sendo que eles se complementam. O trabalho dos cantores do disco Ubuntu e o tema Abadá Indígena dos jogos mundial, nos traz para uma profunda reflexão.
    “Sou porque nós somos” (Ubuntu), esse é o caminho. E os índios, esse é a nossa dívida impagável.
      Nós fazemos parte de um mesmo elo, quando ferimos alguém, ou a sua cultura, ferimos a nós mesmos. Por mais evoluída que pareça a nossa sociedade, estamos sem perceber, criando o fim de nossa existência. Poluímos o ar que respiramos, sujamos a água doce dos rios que mata nossa sede, queimamos e desmatamos o pulmão do mundo, e abrigo das faunas que compõe o nosso planeta.
      A Abadá - Capoeira, nos propõe a buscar mais a essência de nossas raízes, antes de avançar em direção ao futuro. Pois, é a nossa atitude no presente com relação ao passado, que pode proporcionar um futuro melhor para todos. Tanto a filosofia africana, quanto a indígena (sendo elas nossas raízes), tem muito a nos ensinar. Busque, pesquise, aprenda e compreenda. Você não vai se arrepender!
     E na busca de inspiração para este artigo, encontrei esta carta que não posso deixar de compartilhar com você, caro leitor!
     Se trata de uma carta do Cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviada em 1855 ao presidente dos Estados Unidos Francis Pierce, depois do governo ter dado a entender que queria comprar a terra onde moravam sua tribo. A mais de um século e suas palavras ecoa como se tivesse escrito hoje. Veja quanto valores foram massacrados!



A carta

    "O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
    Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
    Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
     De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.

       Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais a esperança transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."



terça-feira, 19 de setembro de 2017

Como age a capoeira na vida de quem a pratica?


Como age a capoeira na vida de quem a pratica?


"Aquele que anda com os sábios será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal" (Provérbios 13:20)

             A capoeira por si só, não existe. Como diz as sábias palavras do Mestre Camisa, somos nós os capoeiristas, que fazemos com que ela exista. É a sabedoria de grandes Mestres, passada por gerações, em pleno processo de desenvolvimento.
            Desde o início, a capoeira vem com o propósito de luta pela liberdade. Liberdade essa, sendo possível se começada no íntimo do indivíduo, transformando um espírito cativo em espírito livre. A capoeira instigava o negro mais fraco que o branco, a buscar força a aonde ela é inesgotável, dentro de si mesmo. E hoje, não é diferente, o que muda são as circunstâncias, mas o legado ainda é o mesmo.
           Hoje, embora se diz não ter escravidão, sabemos que isso não é verdade, ela apenas modernizou. Em vez de libertar os negros, ela levou mais pessoas a se escravizar, gente de todas as raças, crenças e etnias, pois o sistema age nos incentivando a escravidão. Pensando nisso, concluímos que somos escravos de nos mesmos, que nos deixamos levar pela ganância, pela inveja, pelo o egoísmo e entre outros sentimentos que vem como reflexo na disputa pelo pódio do capitalismo. Mas ainda temos uma luz muito forte na capoeira, ela vem como instrumento pedagógico de conscientização passado do Mestre para os discípulos no convívio em grupo. A capoeira em seus recursos artístico e cultural, aborda vários aspectos; a arte marcial, a música, os instrumentos, a poesia, valores históricos e o convívio social. O termo criativo da ideia “jogar”, não está na disputa entre duas pessoas, mas pelo melhor entre os dois e aos demais envolvidos numa roda de capoeira, inclusive o público que assiste. A capoeira promove a paz e harmonia entre os povos, se todos compreendessem os fundamentos dessa arte, não haveria espaço para escravidão. Quando se trata de trabalho, esse viria como um complemento para a vida e não para ferir a integridade de quem o faz.

        Como podemos ver, a capoeira busca promover valores culturais e humanos expandindo através do mundo a fim de incutir personalidades fortes com dignidade e valores pessoais, seus ensinamentos promovem um profundo exame pessoal e espiritual. Gostou? Vem pra roda você também!



segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Falando de conselho...

   

 Falando de conselho...


      Na capoeira, assim como em outros campos de atuação na vida, vemos muitos Mestres e professores tentando dar o que não tem. Pensando nisso, resolvi repassar um pouco neste artigo, do que aprendo no grupo, com as devidas honras aos meus tutores, Instrutor Mestiço, Professor Parafuso e ao nosso Mestre Camisa. Então vamos nessa!




O exemplo

   Um conselho é bom, melhor acompanhado do exemplo, o ensinamento de um Mestre, torna mais forte e preciso, quando o que se ensina é atribuído a ele mesmo.

       O conhecimento, é como uma energia que percorre seus condutores, nós somos como uma lâmpada que faz com que o conhecimento brilhe. O condutor de energia, se compara a transferência do conhecimento entre as pessoas. O brilho da luz de uma lâmpada, se equivale ao exemplo que reflete através de nossos atos.

        O equilíbrio do conselho e o exemplo, é muito eficaz no meio educacional, é como o relacionamento do sol e a lua, o sol se vai durante a noite, enquanto a lua reflete seu brilho no momento de escuridão. Assim, se o brilho do nosso exemplo for capaz de refletir o coração de alguém, o mesmo será capaz de iluminá-lo nas horas mais sombrias de sua vida. 

      Ao escrever este texto, escrevi também uma ladainha de angola, que compartilho com os camaradas da capoeiragem e também os que apreciam!

Hipocrisia
Autor: Miau
Ritmo: Angola

Iê,
Um tolo assim dizia...
Um tolo assim dizia

Se conselho fosse bom
Não se dava vendia
Mas o conselho só é bom
Quando o exemplo tem valia

O bom Mestre é aquele
Que não tem hipocrisia
Ele ensina o que vive
No seu dia a dia

Ele conhece o segredo da lua
Que pelo sol se guia
Ela reflete sua luz
Na noite sombria

O Mestre ilumina seus alunos
Que reflete seus fundamentos
Na escuridão da vida.
Camará...
Iê viva meu mestre!
Eeê viva meu mestre camará...

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